Malefactor, Headhunter D, C. e Heretic Execution Dubliners Irish Pub – Rio Vermelho - 16 de Janeiro de 2016 – 20 Horas

Autor: Pedro Ferreira   •   28/01/2016

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Por: Pedro Ferreira - Fotos: Wilson Júnior


 


Poderia ter sido mais uma noite de um Sábado qualquer em Salvador; e pra mim, poderia ter sido o velho esquema de fim de semana, ou seja: ficar entocado curtindo minha privacidade e sossego...  Mas tinha aquele show, e ele prometia! Malefactor, Headhunter e Heretic Execution: três bons motivos pra arriscar e sair de casa. Meu espírito oscilava entre a vontade de ir curtir ao vivo uma podreira de qualidade e ficar de bobeira em casa, quando recebi a ligação de um amigo que instigou uma farra e me deu o impulso definitivo pra ir lá conferir. Logo na chegada ao Irish Pub, percebi que o velho problema da “pontualidade britânica” soteropolitana persistia (cheguei cerca de 2 horas depois do horário previsto para a banda de abertura e nada ainda)... Mas o que importava? Havia o mar, cervejas, o clima estava agradável e rolou tempo para o reencontro com velhos amigos de décadas; um ótimo sinal numa noite que prometia. A casa estava cheia, a Velha Guarda estava quase toda por lá e foi ótimo revê-los, realmente era uma noite especial...


A Heretic Execution já tocava a primeira música quando entrei e o que eu vi e ouvi foi exatamente o que eu esperava. Já havia escutado o EP dos caras e posso afirmar com tranquilidade que eles são mais um nome promissor no Metal Extremo e vão ocupar seu merecido posto no cenário underground nacional, e quiçá, mundial. O tempo dirá se tenho ou não razão... O Death Metal da banda é Old School: preciso, brutal, devastador! Lembra-me coisas como Morbid Angel, Suffocation e algo do velho Obituary. É o tipo de som que inevitavelmente vai te fazer bater cabeça. A arte poética das letras gravita ao redor dos inevitáveis temas mórbidos e de cunho anticristão (Não poderia ser diferente, afinal eles fazem Death-Metal de Verdade...); isso fica claro em petardos como “Trapped between life and death”, “Heretic Execution”, “Evil and Doom” (minha preferida do Heretic Execution) e “Blasphemies on the nazarene corpse”. Tive a satisfação de ter tocado com um dos guitarristas da banda, Euciny Santy, que além de ser um cara muito legal, é dono de grande talento musical em mais de um instrumento (quem o conhece sabe o que falo!). O Vocalista me impressionou pela potência e timbre de seu canto gutural e algo que me chamou atenção de forma positiva foi o comentário, durante a apresentação, de que o baterista tinha aprendido as músicas em espaço de uma semana ou algo parecido: demonstração de grande competência e de comprometimento com o trabalho. Esse é o caminho! Saí zonzo, mas satisfeito com o primeiro round da noite. A “terapia” estava só começando...


Durante o intervalo entre as bandas, a casa passou de cheia para lotada: uma espécie de recompensa para os bravos que se arriscam a fazer produções desse quilate aqui nesta terra de todos os santos. Mais prosa com os amigos. Cervejas, cigarros. A próxima banda da programação seria a Headhunter D. C. e eu sentia certa ansiedade, ou melhor dizendo, nutria certa expectativa pelo fato de fazer seguramente mais de 20 anos que não assistia a um show dos caras.  Era engraçado olhar ao redor e ver que parte do público presente mal tinha essa idade... Uma vida! E muito mais hilário era perceber que muitos deles pensavam que eu estava perdido naquele ambiente, só porque não estava trajado com o habitual manto negro...


A Headhunter D. C. inicia o seu set e logo na introdução uma eletricidade há muito esquecida percorreu minha espinha dorsal; inevitavelmente atendi ao “chamado” e novamente era mais um adepto no Culto da Morte. Começa o massacre com “Dawn of heresy” e a banda apresenta seu arsenal de joias mortíferas compostas e lapidadas nesses quase 30 anos de carreira. Mesmo com o público ensandecido me arrisquei a acompanhar o show da frente do palco, magnetizado! Não podia ser diferente: estava vendo ali três amigos pessoais, fazendo um grande show, perfeito em todos os sentidos, magnífico de testemunhar. Os hinos se sucediam e o público urrava e vociferava uníssono, ensandecido, sob o comando de Baloff. A liturgia prosseguiu com “Stillborn Messiah”, “... And the skies turns to Black”, “ Am I crazy?” (do primeiro álbum), “God spreading cancer”, “The Exorcist” (cover do Possessed), entre outras e me deram a sensação que estava 20 anos mais jovem.  A execução das músicas foi impecável: parecia Cd, e nem eventuais “deslizes” da mesa de som tiraram o brilho da apresentação… Batera monstro, uma avalanche de peso e precisão! Il maestro Zé Paulo comandava a Orquestra da Morte com sua habitual (não mudou quase nada!) discrição e virtuose, compondo um dueto macabro com a segunda guitarrra. Zulberto e seu baixo incansável e pesadíssimo completava com perfeição a Máquina de Matar. Um show inesquecível! Desnecessário falar de detalhes técnicos e musicais da apresentação, provavelmente a maioria das pessoas que venham a ler isto estejam mais atualizadas sobre as bandas que eu. O que procuro aqui traduzir são as impressões pessoais que tive nesta noite e afirmo que foram as melhores possíveis: Um misto de privilégio, orgulho e alegria; acabava de ver um show de nível internacional, ali no quintal de casa. Não é à toa que a banda galgou o patamar que ocupa na cena mundial sem nunca ter feito uma única concessão ao seu som e ao seu estilo. Vida longa ao Headhunter D. C.!


Nova pausa e viria a seguir a Malefactor, fechando o evento que já adentrava a madrugada. Longo intervalo de transição entre as bandas, provavelmente devido a problemas técnicos (ouvi falar em quedas de energia, mas não recordo de tê-las presenciado). Nada grave ou que comprometesse a qualidade do evento, que contou ainda com o lançamento da cerveja “Elizabathory Bloody Beer” (a qual não tive ainda o prazer de degustar...) e de banca com merchandising das bandas da cena underground, uma grande iniciativa da organização. Mais cerveja, mais conversa fiada da melhor qualidade, mais expectativas: Lembro-me de ter sido público e ao mesmo tempo, tocado no que foi o primeiro, ou dos primeiros shows da Malefactor, no longínquo ano de 1992, se não me traí a memória. Naquele dia pensei: - “Esses garotos tem talento!” (sim, éramos todos jovens na época). Não deu outra! Duas décadas depois, a inegável qualidade do trabalho de Vlad, Danilo e companhia representa parte do que há de melhor da música pesada de nossa terra.


Finalmente soam os primeiros acordes da Malefactor e a essa altura, já não fazia a mínima ideia de que horas fossem. As expectativas logo se confimaram: os caras estão tocando muito! Acompanhei distante e esporadicamente o trabalho da banda nessa lacuna de duas décadas e sabia do nível alcançado, mas assistir a uma performance ao vivo era completamente diferente, era em tempo real, sem margens para erros; E não houveram, ao menos não os percebi. Fui testemunha de mais um show de nível internacional na mesma noite. O set iniciou com “Anvil of Crom”, seguida de “Centurian” e “666 steps to Golgotha”, onde pude notar o nível de sintonia entre a banda e o seu público: estes conhecem e cantam juntos, apesar dos já visíveis sinais de cansaço que se detectava em alguns dos presentes no local. Vlad também o percebeu e convidou o público a acordar; então as coisas incendiaram novamente! Segue o show com “Old Demons”, “Estuan Interius” e “Elizabathory”. A banda está impecável! Lord Vlad, ao meu ver, é um grande vocalista; tanto nas partes mais agressivas, como nas passagens mais limpas: ótimo timbre, afinidado e com verdadeira sensibilidade de intérprete, dos melhores que já ouvi cantar ao vivo. Teclado excelente, com clima adequados às músicas e sem deixar de ter suas viagens a la Jon Lord. Cozinha poderosa: Pesada e precisa; o batera é impressionante, uma máquina! Mas o que realmente prendeu a minha atenção, quase que exclusivamente, foi o trabalho das guitarras.  Um verdadeiro concerto! Precisão e beleza nos duetos de guitarra, no mais puro estilo Iron Maiden. Danilo e Jafet são extremamente habilidosos e tocam seus intrumentos com aquela tranquilidade de verdadeiros mestres; mas não se trata só de técnica, mas de sensibilidade acima de tudo, com temas e passagem empolgantes, a verdadeira arte de compor e arranjar. Sensacional! Fiz uma saída estratégica para fumar (meu velho mau-hábito!), mas voltei em tempo de escutar a minha música predileta da Malefactor: “Blood of Sekhmet”; vi o excelente clip feito para ela, e asseguro que ao vivo os caras tocam com a mesma perfeição! E é um dos momentos que Vlad dá mostras de seu grande talento como cantor. Satisfeito com a noite, e já cansado e meio bêbado, me retirei durante a execução de “Barbarian Wrath”. Era hora de descansar. Sabia que na manhã seguinte viria a inevitável ressaca, mas sabia também, de antemão, que tinha valido a pena...


Uma noite memorável!


 


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O Rock in Rio foi um divisor de águas não só para o público, que passou a acompanhar as atrações internacionais por aqui. Mas também para o cantor James Taylor. Em 1985, Taylor vivia intenso inferno astral: estava afundado em drogas e se divorciava da também cantora Carly Simon. Veio ao Rio de Janeiro por obrigação contratual. Mas o carinho dos fãs e a recepção de gala que teve foram marcantes. Comovido com o inesperado apelo, respirou fundo e decidiu tomar as rédeas (de volta) da sua carreira. Acabou gravando uma música: "Only a Dream in Rio" ("Apenas um sonho no Rio").

      
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