Projeto Brasil Guitarras – reflexão sobre o evento

Foto divulgação

O Brasil Guitarras é um projeto da empresa Bra.zil Arte e Cultura, viabilizado através da Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet) e que, segundo o projeto, tem o intuito de divulgar o trabalho de guitarristas brasileiros e mostrar ao público, de forma gratuita, as variadas possibilidades de interpretação e sonoridades do instrumento foco do evento, a guitarra, passando pelas cidades de Brasília, Belo Horizonte e Salvador.

Esta não é uma cobertura de fato, mas uma reflexão sobre o evento na qual eu me coloco na posição de simples espectador, inclusive, porque quando me propus a ir, foi nesta condição. Não levei máquina e nem celular (ficou no carro por receio de assalto), até mesmo porque acabei chegando em cima da hora e tive uma certa dificuldade no acesso, visto que, por julgar que era um evento de guitarristas, pouca gente iria. Este ingênuo raciocínio gerou a brilhante ideia de ir de carro por achar que seria “facinho” estacionar ali perto. Qual a minha surpresa em ver que não foi, justamente porque metade da Bahia teve a mesma ideia.

Cheguei já no meio da apresentação de Toninho Horta, depois de muito “paletar” do Shopping Barra até o Farol, local do espetáculo, e já sentia o clima ameno das músicas de Horta. Show bem tranquilo e que intensificou um pouco mais com a entrada de Davi Moraes (que substituiu Lanny Gordin do projeto original). Tinha um número considerável de pessoas na plateia e, pelo decorrer das manifestações destas em relação aos músicos e músicas tocadas durante o evento, o gosto era bem eclético. A apresentação era de Maria Paula (ex-Casseta e Planeta). Na sequência vieram Frank Solari e Marcelo Barbosa (Angra) e cujo trabalho não conhecia, mas confesso que sua apresentação se mostrou uma das melhores da noite, na minha opinião. Havia técnica e sentimento e, como guitarrista, eu sinto que num show de guitarristas as pessoas gostam de presenciar as duas coisas. Em seguida entram Luiz Carlini, que tocou Beatles e músicas autorais e Edgar Scandurra, que tocou sucessos seus da época do Ira! como “Envelheço na cidade”. Acho que nas duas apresentações as músicas que eram originalmente cantadas poderiam ter sido cantadas de fato e não deixadas para o público cantar. O fato de ser um show de guitarristas não quer dizer que todas as músicas devam ser instrumentais, a não ser que sejam feitas versões instrumentais de verdade, pois assim a música recebe um novo valor, uma reinterpretação, efetivamente, e isso vale para as apresentações posteriores do evento. Kiko Loureiro, mostrando uma habilidade técnica muito grande e Andreas Kisser, numa apresentação aquém do esperado - no meu ponto de vista -, vieram em seguida e, para fechar o grupo de guitarristas, entraram Armandinho Macedo e Robertinho de Recife, estes dois também executando grandes sucessos seus como “Zanzibar” (Armandinho) e “Elefante” e “Baby doll de nylon”, ambas de Robertinho, além de um pout-pourri que incluía riffs de músicas pop e rock famosas como “Smoke on the water” e “Beat it”, dentre diversas outras. Admito que, se não me dissessem que aquele cara com visual meio espalhafatoso era Robertinho de Recife eu não o reconheceria, de tão diferente que estava desde os meus tempos de adolescente, quando ele ainda tocava no rádio, há uns 30 anos atrás. Em tempo, alguns conhecidos me questionaram que Pepeu Gomes poderia estar na lista. Na verdade, estava, mas por alguma impossibilidade, Robertinho de Recife entrou em seu lugar.

Bom, em virtude do horário, acabei não ficando até o final. Saí mais de 23h e ainda faltava a apresentação dos guitarristas todos juntos e o encerramento. Ouvi algumas pessoas dizendo depois, pessoalmente e pelo Facebook, que o evento tinha sido muito bom. Também gostei, mas faço algumas ressalvas em relação a questões técnicas. Os microfones, de forma geral, estavam meio baixos, a apresentação de Marcelo Barbosa simplesmente iniciou com a guitarra muda (e que “desemudeceu” graças à interferência do público), o intervalo entre as apresentações ficou meio extenso, os vídeos de fundo de palco pareciam que tinham algum tipo de descompasso, o baixo estava confuso - não fazendo harmonia com as guitarras - e, o pior de todos os problemas: as guitarras que tinham distorção pareciam uma “lata enferrujada”. Num show de guitarristas não dá para ouvir guitarras com som de lata. E como a ignorância é mãe dos julgamentos precipitados, supus de imediato que o problema era devido à economia na locação do equipamento, informação contradita depois por um conhecido que explicou que o problema foi ocasionado, na verdade, por imperícia técnica na operação da aparelhagem. Achei também que os artistas não renderam pela questão do tempo. Se ao invés de dez pudessem ser menos atrações, talvez, cada uma tivesse um rendimento de tempo melhor, além do que, se o evento começasse mais cedo, acabaria menos tarde também.

Enfim, uma pena terem acontecido esses problemas todos num espetáculo desse porte, pois, caso contrário, a impressão, com certeza, teria sido a melhor possível, afinal, não é toda hora que vemos um show com dez guitarristas nacionais com conhecimento musical e estilo tão diversificado em relação ao que rola na mídia comercial. Isso, pra não falar que alguns deles chegaram até a fazer parte de nossa adolescência sonora o que, sem dúvida, fez matar a saudade de muita gente.

No frigir dos solos, não houve brigas, nem assaltos, o público bebeu, ouviu, curtiu e saímos de lá esperando mais. Grande iniciativa e grande abraço, a quem foi e a quem ficou na vontade.

Programação do que rolou dia 07 de janeiro/2017 - sábado:
18h00 às 18h30 – Davi Moraes e Toninho Horta
18h40 às 19h10 – Marcelo Barbosa e Frank Solari
19h20 às 19h50 – Edgard Scandurra e Luiz Carlini
20h00 às 20h30 – Andreas Kisser e Kiko Loureiro
20h40 às 21h10 – Armandinho e Robertinho de Recife
21h20 – Todos os guitarristas juntos
22h – Encerramento do evento
Nota: os horários foram alterados por conta dos atrasos.

Página do evento: http://brasilguitarras.com.br/
Projeto do evento: brasilguitarras - projeto