Guitarrista Eduardo Amarante

Autor: Ludmila Guimarães   •   02/08/2008

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Postado por: Ludmila Guimarães  •  2309 hits


Bandas Agentess, Zero e Azul 29 esses nomes soam familiares para vocês? Não? Então, sintam-se envergonhados, porque essas bandas são os maiores ícones do rock nacional A banda Agentess representou o tecno-pop, isso mesmo, foi a primeira banda a fazer esse tipo de som no Brasil, desde 1980, a visão futurista, experimental e única dessa banda surpreendeu a crítica e continua surpreendendo os fãs do Brasil e do exterior quando se para escutar o material dessa arte que é a banda Agentess, não dá para explicar é preciso ouvir e assim ser possível perceber o nível musical que infelizmente deixa de existir três anos depois do início da década de 80. Nessa mesma época surge a Azul 29 que era uma banda que tinha características do tecno-pop, mas vinha com uma influência mais explícita do rock and roll em suas músicas do que na anterior banda Agentess e finalmente a banda Zero que foi a mais popularizada, devido a uma maior divulgação do trabalho pela mídia. Agora imaginem que nesses três trabalhos tiveram como guitarrista Eduardo Amarante que por loucura do destino veio parar na cidade de Salvador e eu tive a oportunidade de conhecer ele e sua família, pois já valeu entrevistar um ser humano tão simples e ao mesmo tempo tão singular! Então, seja bem vindo Eduardo Amarante ao site Reidjou, pois temos o maior orgulho em entrevistar um dos maiores nomes do Rock Nacional!


1) Ludmila Guimarães – Em que cidade você nasceu?
Eduardo Amarante - Nasci em São Paulo, capital.


2) Ludmila Guimarães – Conta para nós o que estava acontecendo nos anos 80 a nível de rock and roll em São Paulo?

Eduardo Amarante - Nessa época havia um embrião dos anos 80. Lembre-se que o Brasil era recém nascido de uma época de ditadura e que todo acesso à cultura era difícil. E imagine o rock como expressão, que as mentes dominantes da época comparavam a Presleys, (leia-se Jovem Guarda com suas letras insípidas e permitidas como paliativos, sem nenhum perigo ao sistema) ou drogas ou letras revolucionárias que eram uma forma de contracultura ameaçadora ao regime. Portanto só poucos podiam ter acesso a qualquer manifestação mais livre, e até apenas artísticas, (desde as décadas de 60 e 70), às quais fui um dos poucos privilegiados que teve esse acesso, pois tínhamos uma roda de amigos, que com alguma freqüência iam ao exterior trazendo informação. Isso somado resultou em um movimento espontâneo de pessoas informadas que tinham algo a falar em PORTUGUÊS com essa bagagem cultural, afinidade ao rock e a contemporaneidade daquela época, conhecendo as raízes, mas vivendo o mundo presente naquele instante. Isso somado à decadência do establishment, permitiu o movimento de pessoas, artistas, bandas, e lugares alternativos.

3) Ludmila Guimarães – Como surgiu a idéia da banda Agentess?
Eduardo Amarante - A idéia dos AGENTSS (sem E) surgiu logo após minha vinda de Londres onde morei por algum tempo. Eu estava ávido e cheio de idéias, mas não encontrava ninguém que tinha o mesmo tipo de som na cabeça. Os roqueiros da época ainda estavam em Woodstock e o punk para mim já era velho. A new wave estava no auge misturando contracultura com bom gosto. Vi shows maravilhosos em Londres como Seventeen Seconds, do Cure num lugar equivalente ao Rose Bom Bom em SP, o antológico MARQUEE CLUB e que existia desde os 60 (Beatles, Stones, Floyd e Joy Division tocaram lá). E finalmente em uma conversa de bar, com Giuseppe Lenti, ou "Fripp" e que é o guitarrista do Voluntários da Pátria até hoje, fui apresentado a Kodiak Bachine e Miguel Barella.
O Agentss estava fundado.


4) Ludmila Guimarães - A Azul 29 surgiu logo após a Agentess?
Eduardo Amarante - Após o misterioso Agentss, pois fizemos uma meia dúzia de shows, modéstia a parte memoráveis, pois éramos extremamente originais e criativos, como por exemplo, um ou dois shows que fizemos no Carbono14 e no Hong Kong em que rasgávamos uma cortina de plástico entre o palco e a platéia, no meio da performance como se fosse um hímen, resolvemos parar, pois mesmo naquela época queríamos algo diferenciado e perfeccionista o que não cabia naquela época pois empresários e diretores artísticos são como a história do coelhinho e da cobra , que eu acho que já te contei. Sendo assim, e também com a semi reclusão de Kodiak, os shows começaram a rarear. Foi quando um daqueles amigos (Thomas Bielefeld) que me procurou e resolvemos fazer um projeto que há muito estava embrionado. Nossos gostos musicais eram idênticos. Reuníamos-nos frequentemente nos fins de semana, e em 6 meses quase todo o repertório da banda estava pronto. Contávamos com uma bateria eletrônica, Casio tones e guitarra além de diversos efeitos. Faltava, pois baixista e baterista. Não tivemos dúvida em chamar Thomas Susemihl para o baixo e que já havia tocado comigo no Agentss e estudado com o Thomas ¨Coronel ¨ Bielefeld, e o Malcolm Oakley na bateria que era amigo dos dois , e era extremamente criativo na banda em que ele tocava anteriormente , VOGA. Precisávamos ainda de um nome. Foi quando Thomas e eu fizemos um brain storming e escolhemos AZUL 29 (azul29.mus.com.br ), que fosse alfanumérico, retratasse o som e as letras cáusticas que fazíamos.


5) Ludmila Guimarães – Quais as bandas que faziam parte do cenário juntamente com vocês na época da Agentess e Azul 29?
Eduardo Amarante - Nessa época começavam a fervilhar lugares em SP, como Victória, Rose Bom Bom, Madame Satã, Clash, Napalm e etc. Lugares esses que seguiam a linha de grandes centros como Londres, N.Y., Berlin, ou seja, bares com música ao vivo e contemporânea. Foi quando surgiram bandas do punk à new wave como Inocentes, Ratos, Mercenárias, Ira, Ultraje, Voluntários Cabine C, Titãs do Ié Ié Ié na época, Gang 90 e as Absurdetes, além é claro de Agentss e Azul 29. Em seguida vieram também para SP os de Brasília como Capital e Legião que freqüentavam nossas apresentações e estavam também tentando um lugar no cenário que surgia. Foi uma época que sinto falta, pois tudo concorria para que o Rock Nacional acontecesse.

6) Ludmila Guimarães – Você poderia definir as diferenças das duas bandas: Agentess e Azul 29?

Eduardo Amarante - O Agentss (kodiakbachine.com) era baseado no núcleo Kodiak, Barella e eu. Nós três compúnhamos, baseados em muitos sintetizadores, e duas guitarras com estilos e efeitos completamente diferentes e que se costuravam o tempo todo, sendo o vocal considerado um instrumento a mais (o electotranslyrics). Já o Azul 29 era baseado no Thomas e em mim, com letras mais cáusticas e um vocal fortíssimo e diferenciado, a utilização de mini teclados com sons do tipo de um mellotron e mini sintetizadores, e eu, às vezes, interferindo também com um mini sintetizador também, e até o Thomas ¨Mico¨Susemihl que ,às vezes, usava um Moog.


7) Ludmila Guimarães – A banda Zero das três bandas que você participou foi a mais "divulgada" pela mídia, por quê?
Eduardo Amarante - O Agentss apesar de pioneiro não era digamos assim nada comercial e já estava para se dividir, apesar de termos gravado um compacto independente e que só tocou mesmo no programa do Kid Vinil, e um outro pela WEA que na época contratou de uma só vez Magazine, Ira, Titãs Ultraje, Agentss e Azul. Já o Azul gravou dois compactos, inclusive com uma música que entrou para a trilha do filme Bete Balanço, "Vídeo Game¨. Eu diria que as gravações não ficaram bem produzidas e que também não correspondiam com o material que realmente representasse nosso som. Seria bem mais justo se tivéssemos gravado 2 LPs como fizeram com o Titãs. No caso do Zero fomos mais cuidadosos nas gravações e tivemos mais sorte, pois gravamos mais músicas e tivemos muito mais controle de produção.




8) Ludmila Guimarães – Por que as bandas acabaram? Quais eram as formações originais das três bandas?
Eduardo Amarante - Bom no caso do Agentss foi um processo natural, pois existiam dois projetos paralelos em andamento e também Kodiak era um tanto quanto exigente e perfeccionista e os lugares da época não eram tão bem equipados. No caso do Azul 29 foi uma pena, pois tocávamos em muitos lugares, já havia uma espécie de cult following, e as duas tentativas de gravação também nos esfriaram um pouco. O Coronel também estava se sacrificando, pois como ele trabalhava na VW ele trocou suas férias por 2 anos para que pudéssemos fazer shows ou viajar no meio da semana. O Mico cada vez mais era requisitado pra fotografar, o Malcolm estava terminando a POLI-USP, eu a GV, e como o Malcolm mesmo diz se tivéssemos esperado mais 6 meses o jogo viraria, pois foi quando realmente estourou o movimento com o lançamento do RPM. Mesmo assim depois eu convidei o Malcolm para o Zero no lugar do Athos, pois tínhamos ainda um caminho a percorrer. Já o Zero acabou em 92 depois da briga do Guilherme com a EMI, com o axé, os caipiras e os bregas ressuscitando, e os shows rareando, e também por incompatibilidades musicais entre meu radicalismo e o romantismo do Guilherme entre outras,e cansaço pois 5 convivendo por 7 anos dá pra imaginar. Mesmo assim voltamos no começo do millênio com o eletroacústico e fizemos alguns shows. As formações eram:
Agentss - Kodiak Bachine - teclado, Eduardo Amarante - guitarra, Miguel Barella - guitarra, Lysis - contrabaixo , depois Miko,
Elias Glick - bateria.
Azul 29 - Thomas Bielefeld - voc, tec, EA - gtr,tec, Thomas Susemihl - bxo tec, Malcolm Oakley - btr
Zero - Guilherme Isnard - vocal, Eduardo Amarante - guitarra, Freddy Hayatt - teclado, Rick Villas Boas - contrabaixo, Athos Costa - bateria no Passos no Escuro , depois Malcolm Oakley no Carne Humana e até o final em 1992.

9) Ludmila Guimarães – Você morou um tempo na Inglaterra o que você achou do público rocker de lá? Você acha diferente do público rocker brasileiro?
Eduardo Amarante - Eu vi uma série de shows de diversas bandas, do progressivo ao punk e new wave, em lugares como pequenos pubs do legendário Marquee, ao famoso e grandioso Hammersmith Odeon. Encontrei, portanto diversas tribos, mas o que me chamou atenção mesmo foi à cultura e o número de opções diárias de segunda à segunda, com mais de pelo menos 50 opções de shows diários. Isso sem dúvida alguma, cria raízes incomparáveis e que faz da Velha Ilha o berço do melhor rock do mundo! Por outro lado eu diria que o público verdadeiro de rock no país do brega , do pagode e do axé, cabe como uma luva nas terras da Rainha.

10) Ludmila Guimarães – Durante a entrevista você comentou que se considera "radical" no que diz respeito ao som que você escuta, aproveitando, quais as bandas que te influenciaram?
Eduardo Amarante - Esse meu "radicalismo" te juro que não é proposital, pelo contrário é bem natural. É que com tudo o que ouvi vi e vivi a minha musicalidade somada à minha formação não me permite admitir uma banda do tipo que toca rock com baião, axé e pitadas de funk misturadas ao reggae, como a maioria das bandas brasileiras faz. Nesse caso não cabe globalização, mas sim segmentação. É difícil você imaginar uma banda gótica tocando reggae, não é? Some - se a isso o fato de eu gostar de climas mais sombrios passando por harmonias viajantes. Não combina com o programa do Gugu, né? Quanto as minhas bandas preferidas e que me influenciaram há uma linha que inicia em Moody Blues, Bowie, Lou Reed, Genesis com Gabriel, Yes, Strawbs, Steve Hillage, Focus, Magma até a grande ruptura Joy Division, Cure, Sound, Ultravox Chamaleons, Legendary Pink Dots, Dead Can Dance, passando por Bowie de novo, pois é incrível como se renova, até Radiohead... enfim acho que já é uma pequena amostra pois com certeza esqueci de várias.


11) Ludmila Guimarães – O que trouxe você para a Bahia? Especificamente Salvador?

Eduardo Amarante - Bem, eu já queria sair de SP há muito tempo nos 90, pois essa década deveria ser esquecida no cenário do rock, principalmente lá. Somado à poluição, trânsito, violência, e ao fato de minha esposa ser de Sergipe, resolvemos morar lá um tempo. Lá me dediquei ao mergulho, tive um bar, na Ilha, que era onde eu morava, em frente à Aracaju, e até toquei com alguns músicos de rock locais e inclusive com a pianista clássica Daniela Faber. Mas infelizmente Aracaju é muito pequena e as coisas começaram a ficar difíceis lá. Como eu sempre mergulhava na Bahia resolvi vir ser instrutor de mergulho e me mudar pra cá onde havia mais oportunidades.

12) Ludmila Guimarães – Toda banda famosa tem uma história louca, seja de um fã, de algo engraçado etc conta ai?

Eduardo Amarante - Bom teve várias... desde um fã que descobriu onde eu morava em SP e que fazia plantão todo dia,e que pensava que só eu e o Paulo Ricardo do RPM podíamos salvar o mundo, até sermos expulsos de hotéis e aviões, quando, após uma guerra de armas de brinquedo em um vôo, com o avião já na pista pronto pra decolar, o nosso roadie disse pra aeromoça que adorava comer brigadeiros (o doce ), e havia um de verdade bem ao lado ... e etc...


12) Ludmila Guimarães – Você já escutou alguma banda de rock baiana que faz parte do cenário atual? O que você achou?

Eduardo Amarante - Já ouvi algumas sim, como a Soma, Teatro Serafim, Koyotes e é claro estou esperando a Modus Operandi , pois o David já me deu um CD e eu gostei e gostaria de ver ao vivo, assim como o Persona Non Grata do Gustavo Mullen, que ouvi falar muito bem e gostaria de conhecer. Tô esperando hein Gustavo! . De uma maneira geral achei todas muito interessantes e diferentes uma das outras, o que prova que existe um velho roqueiro vivo e atuante em Salvador, apesar das barreiras da terra do axé.


13) Ludmila Guimarães – Sei que você tem muitos projetos para o futuro, além do dia a dia que você enfrenta, mas será que ainda poderemos ver você na cena baiana rocker?

Eduardo Amarante - De um modo geral estou meio parado, pois estou trabalhando muito e não tenho tido tempo nem pra ensaiar com o pessoal da banda, apesar de que o Dilsinho, nosso principal compositor, tem letras maravilhosas esperando para serem trabalhadas pelo Ed (bateria), o Salvador (teclados) , o Cleber (baixo) que está com outros projetos, e por mim, mas as coisas andam meio difíceis. O que eu posso afirmar é que aquele vírus da música que corre nas veias nunca morre e que tudo pode acontecer, desde gravações, participações, ou até mesmo uma brincadeira sem compromisso pra não perder o costume, se houver tempo pra isso é claro.

15) Ludmila Guimarães - Qual a música mais inesquecível para você e outra que simbolizou os anos 80?
Eduardo Amarante - Sem dúvida "Supper' s Ready" do Genesis com o Gabriel é claro. Mas também é claro que existem um montão de outras como "Close to the Edge" do Yes e aí vai... Quanto aos 80s deixe-me ver, posso citar pelo menos 3 : "The Forest" do Cure , "Wish You Were Here" do New Order lembrando Ian Curtis e "Vienna" do Ultravox, e com certeza esqueci de váaaaarias.


16) Ludmila Guimarães – Tive a oportunidade de perceber que você é um bom conhecedor de vinhos sugere um vinho para o público rocker, por favor!
Eduardo Amarante - Bom, eu tenho gostado muito de um vinho argentino tinto, seco é claro, mas feitos com uvas malbec, o Toso Malbec. Mas pode-se achar uns argentinos mais em conta feitos da mesma uva por volta de dez reais, na Perini por incrível que pareça. Quanto aos brancos também secos um que é sempre o mesmo e continua bom é o Liebfraumilch nacional e por volta de cinco reais. Valeu? Grande abraço a toda galera do rock, e valeu mesmo!!!!!!!!!!!!!!


*Foto Reprodução

 

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