Rogério Big Bross

Autor: João Taboada   •   10/09/2016

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Postado por: João Taboada  •  2698 hits


Rogério Big Bross (Rogério Brito, de batismo) é produtor cultural baiano e extremamente conhecido na cena rocker de Salvador, desde, inclusive, a época em que nem sonhava ser produtor, quando frequentava a antiga loja de sebos Maniac, no shopping Orixás Center, nas Mercês. Hoje, Big Bross mantém o selo Big Bross Records que já lançou diversas bandas baianas como Retrofoguetes (oriundos da antiga The Dead Billies), Ronei Jorge e os Ladrões de Bicicleta, The Honkers, a Dever de Classe (que foi uma das primeiras bandas Punk que eu ouvi falar aqui em Salvador), Theo e os Irmãos da Bailarina e Pastel de Miolos, dentre diversas outras. Além do selo, já ajudou na produção do Garage Rock (de Ruy Mascarenhas, aquele do antigo bar Araçá Azul e da banda Meio Homem) e, atualmente, produz shows de bandas como no projeto "Quanto Vale o Show?", que rola normalmente às terças-feiras no Dubliners Irish Pub e, finalmente, atua também como DJ.


RD - Como e porquê você decidiu ser produtor de bandas de Rock'n'Roll?
RBB - Na verdade, nunca fui produtor de uma única banda, sempre trabalhei com todas de acordo com minha necessidade, ou com a necessidade do evento que estava produzindo no momento. O "como e porquê" até hoje me pergunto.


RD - Que bandas você já produziu e qual (ou quais) delas proporcionou o melhor retorno de público?
RBB - Como respondi acima, sempre fui produtor de eventos. Nunca produzi um artista em especial, trabalhei com banda de metal, hip-hop, rock por aí vai. Pelo selo lancei mais de 60 e destacaria aí Ronei Jorge e os Ladrões de Bicicleta, The Honkers e Retrofoguetes. Acho que foram as que mais rodaram, mas gostei muito de ter lançado a Dever de Classe, por exemplo.


RD - Não precisa explicitar nomes, mas teve alguma banda produzida por você que lhe decepcionou de alguma forma? E porque?
RBB - Tiveram bandas como Mutation Lab e Tritor, que eu lancei, o CD ficou pronto e a banda acabou. Isso me fez mudar e repensar o jeito que trabalhava com o selo.


RD - Eu lembro que conhecia você da Maniac e do ambiente Rock'n'Roll, mas a gente mal se falava (risos). Enquanto eu tinha uma linha mais Hard Rock, você era bem Metal, o que ficava bem claro no seu visual. Hoje, quem é Rogério Brito no que diz respeito ao gosto musical?
RBB - Depende do humor em que eu acordo: uso visual preto e camisas de rock até hoje, mas quanto à musica é isso aí, ouço de Abba a Zappa e o que diz o que vai ser no dia é o humor.


RD - Há muito tempo você cantou em banda também, o que durou pouco tempo. Aquilo era só uma curtição? Seu negócio com banda é só na produção mesmo ou você ainda curte fazer Rock'n'Roll?
RBB - Eu cantei na OBLITERATION e na CHEMICAL DEATH e, nessa última só fiz 3 shows. Cantei é modo de falar. Urrei, nunca tive habilidades pra tocar porra nenhuma, só toco o terror, enfim, prefiro os bastidores.


RD - O que significa o programa Faz Cultura do Governo Estadual pra você que trabalha numa linha mais underground?
RBB - Acho válido, nada democrático, mas é valido. Para um projeto de heavy metal ou rock pesado sem ter a cara da Bahia nele é muito difícil, nessa hora "a da curadoria" é que o programa deixa de ser democrático. Falta alguém que explique melhor a importância do assunto, no momento final de aprovar os projetos.


RD - Como a internet e as redes sociais têm lhe ajudado? Faz muita diferença pro seu trabalho?
RBB - Ajuda e muito, atrapalha em muito também. Não se pode confiar em curtidas e números das redes sociais, por exemplo. Hoje, num clique você tem tudo ao mesmo tempo não tem nada, pois os números não condizem com a realidade.


RD - O projeto "Quanto Vale o Show?" já existe há um certo tempo. Isso foi ideia sua? Vale a pena tocar com bandas meio desconhecidas e em dias não tão "nobres" da semana como a terça-feira?
RBB - O projeto já tem 2 anos e 170 artistas autorais diferentes passaram por ele, mesmo sendo terça e indo por volta das 23h, hora em que ele já está acabando. É a chance que tenho de ver bandas novas e, imagine, por exemplo, uma banda que leva 50 pessoas numa terça-feira, como não seria se o show dela fosse na sexta? É um evento já consolidado, com agenda fechada até 2017.


RD - O que significa o trabalho como DJ para você? É satisfação pessoal ou complemento financeiro?
RBB - Uma diversão que deu certo. Pessoal e financeiramente falando.


RD - As pessoas reclamam, mas, quem fazia antes o papel que os músicos não queriam fazer (ou não sabiam) de gerir seu próprio trabalho como organizar shows e fazer contatos, proporcionar meios para gravação das músicas, divulgar seus discos, etc, eram as gravadoras. Por mais que elas lucrassem em cima dos artistas, eles também ganhavam, tanto que, hoje, temos bandas e cantores do Pop e do Rock que ficaram milionários (ou, pelo menos, muito bem de vida) e que foram produzidos por grandes gravadoras como os Rolling Stones, Elton John, Iron Maiden, Dire Straits, Queen, U2, Ozzy Osbourne, Pink Floyd, Metallica, AC/DC, dentre diversos outros. No seu caso, quais as ações que você toma, na prática, para que o trabalho das bandas saia do anonimato e alcance um público mais significativo?
RBB - Não tem nem como comparar as ações da Bigbross Records ou Brechó Discos com os exemplos citados acima. A minha ideia com o selo sempre foi somente dar o passo inicial para a banda, nunca quis que virasse algo cheio de contratos e regras, o que me incomodava. As bandas gravavam, lançavam demos e tinham vergonha de vender. Você ouvia ótimas demos e não sabia onde comprar, então eu montei o selo para mostrar às bandas que dava pra vender o produto delas, mas nunca assinei um contrato com nenhuma e todas foram livres pra fazer o que quisessem com sua carreira.


RD - Se a gente pesquisar pela internet vai encontrar referências a você como "o cara da banquinha de discos". Ainda existem sebos de discos (incluindo de LPs, principalmente) aqui em Salvador de pessoas que, como você, já estão na batalha há vários anos. A música vendida de uma forma física, como em CDs, ainda tem espaço? Você ainda é, também, o cara da banquinha de discos?
RBB - Dia 12/10/16 vai ter XVIII Feira do Vinil no Portela Café e eu monto banquinha até hoje em shows e festivais. Diminuíram os números, mais muita gente ainda sai do show com o CD da banda.


RD - O Rock sempre teve uma postura de contestação de valores (mas não necessariamente políticos) e isso ficou evidente na década de 1980 com bandas como Legião Urbana, Plebe Rude, Ira, Engenheiros do Hawaii, Barão Vermelho, Inocentes, Ratos de Porão e bandas Punk em geral. Mesmo com essa postura a maior parte dessas bandas tocava em rádio, que era o grande veículo para se alcançar o público consumidor de Rock. De lá pra cá o perfil das bandas de Rock mudou ou foi apenas o gosto do público que só se interessa agora por diversão nonsense?
RBB - O que mudou foi a forma de ouvir música. Quem precisa mais esperar tal dia e tal hora para ouvir tal programa na rádio, quando o cara pode ir na internet e ouvir o que quiser, na hora que der vontade?


RD - Rogério Big Bross tem algum projeto pro futuro?
RBB - Continuar fazendo o que faço, vivendo de rock na Bahia e botando o rock pra frente.

O ReiDjou! agradece pela entrevista e deseja sucesso nessa batalha em prol da cultura alternativa baiana.

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Foto entrevista: Tiago Quirino Troccoli



 

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