Sandra de Cássia - parte 2: ACCRBa

Autor: Val Oliveira   •   19/10/2008

https://www.reidjou.com/entrevistas/sandra-de-cassia-parte-2-accrba/
Postado por: Val Oliveira  •  1170 hits


Segunda Parte da entrevista com Sandra de Cássia, e nesta parte englobamos a ACCRBA.

por: Valmar Oliveira/ foto: divulgação

1 - Vamos falar um pouco da ACCRBA. Este ano quase que o evento não acontece. O que houve realmente?

Como sempre... Vamos lá, os primeiros rounds estão na denúncia apresentada no site da ACCRBA: "O PALCO DO ROCK AMEAÇADO". Antes era só nos tirar da festa, hoje, está claro que querem nos cortar do carnaval e dar lugar a um outro palco rock, não apenas apoiado pelos poderes e, sim, administrado por eles! Pense no APARTHEID cultural! Pensou? Vai por aí e pense em um "Golpe Final". Imagine, que COINCIDÊNCIA: este ano em que 43 cidades do Brasil e mais 3 da América do Sul aderiram ao evento como referência, realizando PALCOS DO ROCK simultâneos, denominados Grito Rock com uma divulgação espontânea estrondosa, SURGE do nada um outro PALCO com ROCK no bairro do Rio Vermelho. No início, até com o mesmo nome!!! Massa! Mais espaço pra ROCK. Que toquem no meio do carnaval quem tiver afim de tocar. Mas, infelizmente, não era só isso! Ficou provado, mais uma vez, a intenção de cooptação do nosso trabalho, base das nossas denúncias ao Ministério Publico. O evento é uma iniciativa da sociedade civil organizada e isto é preocupante, pelo menos para eles! Você e a torcida do Bahia e Vitória inteira sabem quem são os contra o PALCO DO ROCK! Se dividem em dois grupos: Um dos ditos proprietários do Carnaval de Salvador, que vem desde 1994 perseguindo a idéia, alguns por preconceito e desinformação dos estilos que lá tocam. O segundo grupo é formado por algumas bandas locais, aquelas que quando os cachês do PALCO DO ROCK foram cortados ( MANOBRA COM CLARA INTENÇÂO DE ACABAR COM O EVENTO), pularam fora da luta, achando que lutávamos apenas porque queríamos ganhar os cachês que o primeiro grupo distribui durante a festa, só que existe muito mais que isto.

Com o corte dos cachês estas bandas saíram fora e, pra disfarçar o lado mercenário de ser, passaram a depreciar a imagem do evento por todo canto. Entre as declarações, já chegaram a dizer que o PALCO DO ROCK se tratava do Palco da Assistência Social. Junte estes dois lados, ou seja, a fome com a vontade de comer. Neste espaço, no Rio Vermelho a tropa de elite – as grandes bandas receberam CACHÊS!! POR QUÊ?
As bandas do PALCO DO ROCK, que lutam pela volta dos cachês há 11 anos ainda tocam sem receber qualquer tostão. Qual é o problema? É preciso dizer, Valmar? É simples né, não? O APARTHEID.

O PALCO DO ROCK não é algo comparável à trajetória da ULO SELVAGEM, em um momento e outro? A própria cena em si, não é peculiar entre a 6º pergunta da primeira parte da entrevista??

Pagamos um preço por ter fomentado um evento que nasceu de uma iniciativa popular civil organizada e que está indo em frente, mesmo com tanta dificuldade provocada! "Golpe Final". Daqui a pouco, aparecerá "alguém" na mídia falando:: "VISANDO AS DIVERSIDADES CULTURAIS, O ECLETISMO, ATENDENDO ÀS SOLICITAÇÕES, TROUXEMOS O PALCO ROCK PRA PERTO DA GRANDE FESTA, O CARNAVAL DE SALVADOR. DEMONSTRAREMOS CLARAMENTE A INCLUSÃO, ONDE TERÃO ACESSO À MÍDIA, À UMA ORGANIZAÇÃO MAIS BEM CUIDADA, COM CACHÊS. ETC. E A PARTICIPAÇÃO DE GRANDES NOMES DA CENA ROCK NACIONAL, ASSIM, COMO AS ESTRELAS LOCAIS. E POR ISSO, FICA SEM SENTIDO MANTER UM PALCO PRA ROCK EM PIATÃ".

E o NOSSO povo desinformado, como sempre, acatará com facilidade e naturalidade. Logicamente que não nos renderemos a mais um golpe. Os caras não respeitam as especificidades da cultura rocker. Vão tentar acabar com o verdadeiro Palco do Rock. Tentar calar para sempre algumas bandas e estilos. As máscaras serão colocadas, como muita coisa que ainda é sufocado neste país, dando lugar ao engodo da sociedade aristocrata e opressora, dizendo fazer o melhor. Atraindo atrações e público de "superpoderosos" que já são nossos conhecidos... Transformarão o evento em espaço pra bandas de "plástico" que têm espaço o ano todo, fazendo uso do que nos impedem usar. Longos 14 anos se passaram, e desses, há 11 anos vemos todos ganhando e crescendo. E nós, investindo em um sonho de um dia vir o reconhecimento, não apenas nosso, mas de todos que se dizem parte de alguma coisa do que estamos falando que é "CENA".

Contamos com o mínimo que cada um puder fazer para apoiar, divulgar, discutir... Principalmente participando nas discussões da comunidade do orkut, buscando no site, fotolog, youtube e agora o mais novo aliado a RÁDIO PODCAST ACCRBA... É isto, tentar mudar o rumo das ditaduras que muitos se limitam a usar a sua dentadura...

2 - Com a concretização do evento. Houve algum problema durante a realização? E qual o saldo deste ano?

Não, a Policia Militar fez a parte dela, acho que este era um ponto pendente dentro da organização a segurança. Se conseguirmos manter a atenção e o cuidado, só cresceremos. Saldo positivo ao que se propunha: segurança, parte técnica (som e luz), bandas e público.

3 - Em 2006 rolou tristes incidentes, e violência por parte do publico. Como você se sentiu, visto que em anos anteriores, havia a mescla de black metal, punk, pop rock, tudo numa mesma noite e a convivência sempre foi pacifica. Acha que a nova geração do cenário de Salvador não é mais tolerante como a antiga?

Não, não! Não foi por parte do público como uma iniciativa própria. O PÚBLICO FOI INSTIGADO VARIAS VEZES POR ALGUNS VOCALISTAS IRRESPONSÁVEIS! Nada era generalizado antes, mas, por parte de algumas bandas que ACHAM que o festival deveria ter um dia só pra eles. Daí, deste pensamento egocêntrico, acordou o sentimento de formação de gangues, que tentavam se firmarem por pensarem que poderiam demarcar territórios, antes criados pra agregarem todos os estilos. Devido à falta de um trabalho de prevenção para coibir estes maus elementos, acontecia o que registra. O que sinto é vergonha em ver um grupo agindo tal como animais, ou parecidos com grupos de determinados segmentos musicas que criticamos tanto. Que inclusive, ultimamente, de tanto serem criticados, estão menos violentos.

Acredito que qualquer nova geração é reflexo do que se deixa. Você sabe que alguns, dentre os movimentos, inclusive de metal extremista, pregam a separação e levam esta hostilidade para os palcos. Sabe disto! Penso que quando idealizamos o PALCO DO ROCK, estávamos há anos-luz à frente e isto agora que denomina como INTOLERÂNCIA, pra mim é regressão. Eu não tenho como modernismo ou avanço. Violência pra mim só é provocado por pessoas desprovidas de argumentos. Se estas opiniões permanecerem, a cena sempre se arrastará. Acho que a galera que não consegue ver de dentro pra fora, que vejam o que acontece HOJE nos festivais lá de fora. Precisamos rever alguns conceitos. O que acontece é que os espaços pra estas bandas, que são problemáticas e detêm este tipo de público fica cada vez menor porque ninguém quer colocar a vida das pessoas em risco assim. Lutamos tanto pelo evento e na hora da sua realização os caras não se tocam de quem está ali. Gostam e querem curtir boas bandas, se quisessem levar porrada iam pra outro local... É isto... Hoje a segurança do PALCO DO ROCK, além do que se vê, existe a investigativa, que não se vê.

4 - A ACCRBA se notabilizou pelo evento durante o Carnaval, o Palco do rock, também conhecido como CarnaRock. Você não acha que a Associação deveria também tentar promover eventos, mesmo que em menor escala, durante os outros meses do ano?

Sim... Promovemos shows um ano e oito meses no antigo Teatro da Praia e coletamos muitas informações para montar eventos futuros... Como você mesmo disse em uma das perguntas, está havendo uma incidência muito grande de shows na cidade de todos os portes e estilos, e se por um lado é bom, por outro é ruim, pois com tanta variedade e informação, acaba que o público alvo fica perdido, fora o desestimulo natural - ou conformidade - que é causado pelo efeito mp3/internet... Hoje é possível se ter tudo que não se podia antes com uma grande facilidade, e por isso, os valores cada vez mais se perdem, banalizam.

Independente de realizar shows estamos buscando nos reunir pra construir juntos novas iniciativas, algo sólido, buscar novos meios, estruturas e trabalhar com novas visões. Acredito que é o que precisamos. Neste sentido vejo a Rádio Podcast ACCRBA como uma boa proposta de divulgação das bandas, assim como a futura WEB-TV... Apostamos em veículos pra levar as bandas além das muralhas das discórdias e ir aonde o público alvo atual está.

5 - O que você pode falar sobre o Grito Rock? Como rolou essa parceria? E sobre a parte social que a ACCRBA participa, apóia e incentiva?

Falei um pouco na 1º pergunta e acrescento. É o que posso falar da ACCRBA, que por fim idealizou e deu origem ao Iº Festival de ROCK no Carnaval do país, O PALCO DO ROCK, que na minha opinião, ganhou a denominação nacional de Grito Rock! O que é Grito Rock? A reunião de eventos nesta época, ou seja, no Carnaval.

Bandas e público baiano devem saber que na terra de Raul Seixas, há 17 anos atrás, criamos a ACCRBA, a primeira associação de bandas de Rock do país. Há 11 anos, criamos o Dia Municipal do Rock, também o primeiro do País, que é no dia 28 de junho, aniversário do Raul Seixas, aprovada sob a Lei Municipal 5.404/98. Outros feitos podem ser vistos no nosso site, ou em pesquisa no GOOGLE. Muitas cidades e estados do Brasil estão buscando estes feitos e muitos já são vitoriosos. Não seria diferente com o PALCO DO ROCK, o maior festival de rock independente do Estado da Bahia e primeiro festival de ROCK no carnaval do País. Natural que o pouco que tínhamos está se tornando o que se vê.

6 - Como você enxerga o cenário de hoje, não só o de Salvador. Acha que com todos esses aspectos em torno de mp3, internet e mídia virtual ajudam?

Vejo o cenário como anos atrás: com muitas possibilidades e persisto porque acreditamos em ética e justiça, que é o que falta. Quanto aos aspectos virtuais, mp3 etc. creio que tudo pode conspirar favoravelmente quando é usado de forma positiva, em qualquer situação. Como fizemos e pensamos o PALCO DO ROCK. E como toda iniciativa, tem seu lado bom que todo mundo já conhece, e seu lado ruim, que comentei na 4ª pergunta.

7 - Bem , o espaço agora é livre pra comentários e mensagens. Obrigado pela atenção!

Obrigada a você por este espaço, pela paciência em aguardar minha falta de tempo e pelas perguntas tão pertinentes. Não poderiam ter sido melhores. Espero que o Site Reidjou venha a ser valorizado pelo cenário pois é um dos portais que tenho respeito. Aproveito pra deixar aqui registrada a estima em meu nome, da diretoria da ACCRBA e banda Ulo Selvagem pelo amigo Taboada. Felicidades e vida longa pra vocês.

E para a galera, amiga, fãs, etc, deixo a mensagem abaixo, que me identifico bastante.
"Se queremos progredir, não devemos repetir a história, mas fazer uma história nova".
Mahatma Gandhi.

Abraços, Obrigada.
Sandra de Cássia

 

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James Taylor
O Rock in Rio foi um divisor de águas não só para o público, que passou a acompanhar as atrações internacionais por aqui. Mas também para o cantor James Taylor. Em 1985, Taylor vivia intenso inferno astral: estava afundado em drogas e se divorciava da também cantora Carly Simon. Veio ao Rio de Janeiro por obrigação contratual. Mas o carinho dos fãs e a recepção de gala que teve foram marcantes. Comovido com o inesperado apelo, respirou fundo e decidiu tomar as rédeas (de volta) da sua carreira. Acabou gravando uma música: "Only a Dream in Rio" ("Apenas um sonho no Rio").

      
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