Por Val Oliveira em 25/08/2016
CARTA ABERTA
Assunto: Saída da banda MALEFACTOR (Malefactor Brazil)
Prezados amigos, fãs e admiradores,
Comunico que desde o dia 20 de agosto de 2016 não faço mais parte do grupo Malefactor.
Infelizmente fui pego de surpresa com a decisão de três membros da banda (Lord Vlad, Danilo Coimbra e Jafet Amoedo, a partir de agora referidos neste texto como VDJ), que sequer deram qualquer indício de tal atitude nos últimos meses ou foram capazes de sentar e conversar (como sempre ocorreu com TODOS os ex-membros), para que juntos chegássemos a uma resolução que fosse benéfica para o Malefactor e mantivesse sua essência que, em minha opinião, era a união do grupo (ainda que isso resultasse em minha saída).
Eles alegam que mesmo convivendo há mais de duas décadas não sabiam como me falar sobre as expectativas que tinham em relação ao meu posto e que por este motivo acharam melhor desconsiderar os mais de 20 anos de minha história nessa banda, a amizade e, acima de tudo, o respeito a uma pessoa que além de ser um dos fundadores da banda, sempre se dedicou ao máximo, nunca comprometeu a imagem da banda, não faltava a ensaios, shows, viagens e que dedicou boa parte da vida a este sonho. Isso tudo simplesmente por se considerarem (VDJ) os únicos membros capazes de dar continuidade aos trabalhos e decidirem ditar todas as regras de agora em diante.
É importante esclarecer que os conflitos de ideias e egos já vinham ocorrendo há pelo menos dois anos. Todos com pavio curto, impacientes e por qualquer bobagem rolava estresse. Eu era o que mais tentava acalmar os ânimos, pois sentia que isso estava desgastando demais a amizade e iria, mais cedo ou mais tarde, culminar justamente na saída de algum membro. Além disso, a falta de comprometimento e estímulo de todos também já vinha aumentando por N motivos e neste ano de 2016 se acentuou. Ainda assim eu acreditava que havia remédio para isso se resolver, como sempre houve em outras crises que vivemos.
O maior erro dessa fase conturbada, em minha opinião, se deu no começo do processo de composição do novo disco. Isso porque já iniciou com vários conflitos de ideias e pela maneira como o processo estava sendo conduzido. Pra ficar mais claro, nos cinco álbuns que lançamos até hoje TODOS participavam do processo de fechamento das músicas, mesmo que Danilo (Que é um puta compositor) fizesse todo o esqueleto da maioria das músicas – em muitos casos de todas elas – A partir de então, ensaiávamos exaustivamente para que as ideias fossem brotando e as músicas assumissem a cara do Malefactor. Infelizmente desta vez as coisas mudaram. Os três (VDJ) se encontravam durante a semana para compor, beber, se divertir (Nada de errado até aí), mas tanto eu, quanto Roberto e Cris, por termos grandes dificuldades em comparecer nesses encontros durante a semana por causa do trabalho, não participávamos. Não por falta de vontade e isso sempre existiu em dias de semana durante todos esses anos. Pra piorar, os ensaios dos fins de semana (que eram constantes) deixaram de existir, já que cada um (incluindo VDJ) tinha algum compromisso pessoal que estava acima da banda ou porque achavam desnecessário ter esse custo. Com isso, consideramos que as musicas, apesar de serem excelentes, não eram o melhor que poderíamos dar ao público (opinião que não era só minha). Essa sim é a verdade absoluta.
Obviamente que a falta de ensaios afetou o desempenho de todos os músicos e o meu também. Como toco um instrumento que exige bastante e sou um músico autodidata, de fato me afetou muito, mas nada que não pudesse ser remediado se voltássemos a seguir o caminho de sempre ou se houvesse qualquer indício de descontentamento de qualquer um dos cinco. Ainda assim, apesar de não ocorrerem os ensaios com toda a banda, passei a tocar sozinho para poder memorizar e trabalhar as músicas novas e em diversas ocasiões pedi a presença e apoio dos membros da banda (VDJ) para expor minhas ideias e pouquíssimas vezes isso aconteceu. Quando acontecia, o feedback que me davam era que eu estava indo bem e que já poderíamos adiantar as gravações. Eis o motivo maior de minha surpresa.
Trabalho desde cedo e sempre me meti em empregos que sugavam minha alma. Com isso, nunca pude me dedicar à bateria da maneira que quis e que o Malefactor merecia, mas sempre dei o meu melhor e não tenho o menor problema ou vergonha em reconhecer isso. Infelizmente estamos fazendo Metal na Bahia-Nordeste-Brasil e viver de música pesada aqui é um sonho quase impossível.
A minha vontade desde moleque era que a banda pudesse viver do que faz, pois desta maneira poderíamos nos dedicar de verdade aos instrumentos que tocamos. Talvez assim pudesse ser o músico que os três (VDJ) almejavam.
De qualquer maneira é importante ressaltar que nestes mais de 20 anos, abdiquei (assim como todos os outros) de muita coisa em prol da banda. Usava o pouco tempo livre que tinha praticamente para isso. Deixei inúmeras vezes a família e os amigos em segundo plano; Arrisquei minha vida em várias situações bizarras pelas estradas e céus do Brasil e Europa; Abri mão de viagens de lazer; Coloquei meus empregos em risco; Abri mão de oportunidades de negócios; Cheguei ao ponto de investir (e perder) muito dinheiro em um Bar/Restaurante temático (Avalon Medieval Bar) com o intuito de ter um negócio que fosse a cara da banda e ao mesmo tempo nos desse retorno financeiro para seguir o nosso caminho sem ter preocupação com dinheiro ou patrões; Dediquei muito tempo a diversos trabalhos para o Malefactor, como desenvolvimento de artes em geral, divulgação, pesquisas, gerenciamento de mídias sociais, entre outras coisas. Isso sem falar na grana investida durante todo esse tempo com equipamentos, ensaios etc.
Não estou citando isso tudo por ter achado ruim, muito pelo contrário, faria tudo novamente! O prazer que tinha em fazer o som que gosto para pessoas que nos admiram, além de estar ao lado de caras que até então considerava irmãos, valia qualquer sacrifício e era o que mais importava. Cito esses pontos apenas para que entendam que o mínimo que se espera ao se dedicar de corpo e alma a algo que você considera tão importante e da qual você faz parte desde o início, é o respeito (coisa que sempre prezei com todos). Esse respeito foi jogado no lixo. Digo isso não por estar deixando a banda, mas sim pela maneira como estou deixando.
Enfim! Gostaria de dizer que foi uma experiência única poder viver tudo o que vivi no Malefactor, mesmo nos momentos mais difíceis. Todas as conquistas, toda a diversão proporcionada, os problemas, as soluções, as brigas, as risadas, os fãs que se multiplicaram, as bandas com as quais dividimos os palcos, os sonhos de moleque realizados, enfim... A história do Malefactor, até esta data, tem e sempre terá o meu nome e isso ninguém poderá apagar.
Não carrego nenhuma mágoa, raiva ou quero transformar pessoas que tanto gostei em inimigos. Estou acima disso. Existe apenas uma terrível decepção. Por este motivo quero publicamente desejar todo sucesso aos caras nessa nova fase e espero que a banda alcance o sucesso que sempre mereceu e continue respeitando todos os fãs e admiradores.
Por fim, gostaria de agradecer de coração a todos aqueles que deram suporte ao Malefactor até hoje. Um agradecimento mais que especial à minha esposa, minha filha, minha família, meus amigos, a todos que me admiram como pessoa e como músico, aos produtores e bandas (principalmente os bateras) que me deram força em vários palcos em que toquei e todas as empresas que me apoiaram nesta luta.
Aos fãs: Saibam que vocês sempre foram o que mais importou para mim durante todos esses anos e com toda a certeza continuarão sendo o mais importante para o Malefactor.
P.S – Não abandonarei em hipósete alguma a bateria ou a música. Neste momento pretendo me dedicar de forma mais intensiva aos meus negócios, mas tenho diversas ideias musicais em mente que pretendo brevemente colocar em prática. Quem sabe, se tiver paciência e tempo, escreva um livro contanto as coisas que vivi nestes mais de 20 anos. Seja o que for os manterei informados!
P.S 2 - Se você leu até aqui e se sente a vontade, peço que compartilhe esta carta, já que não tenho mais o poder de fazer isso chegar a todos os fãs e admiradores da banda.
Um forte abraço e muito obrigado!!!
HAIL METAL!
Alexandre Deminco
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