Hussein Salim (NOSFERATU)

Autor: Val Oliveira   •   10/07/2010

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Postado por: Val Oliveira  •  1420 hits


Por Valmar Oliveira / foto: divulgação.


1 - A banda teve inicio em 1999, acabou e voltou em 2000 quando iriam tocar Death Metal. Por que houve a opção do Death Metal e conseqüentemente tocarem Heavy Metal tradicional? E o por que da escolha do nome Nosferatu?

Hussein: Saudações amigo Valmar e aos que estão lendo esta entrevista. Nós começamos tocando rock’n’roll e heavy metal, eram apenas covers de bandas como Iron Maiden, Black Sabbath, Judas Priest, Led Zeppelin, Deep Purple etc... Nós estávamos começando tanto com a banda quando a aprender a tocar, então os covers serviam pra nós nos entrosarmos melhor e melhorar musicalmente pra depois começar a compor as músicas próprias. Nós queríamos fazer o som mesmo que estamos fazendo hoje que é o Heavy Metal tradicional com influência das bandas dos anos 80 principalmente da NWOBHM (New Wave of British Heavy Metal).

Nessa época nós fizemos apenas uma música própria que é a ‘Full Moon Night’ que está gravada no EP Returning to the Slaughter. Tinha mais duas que estavam meio no projeto, mas eram muito toscas, bem do começo mesmo, hehe. Quando a banda acabou por total falta de interesse dos primeiros integrantes eu fui tocar com um pessoal de uma cidade vizinha, nós estávamos tocando heavy metal também, mas a banda durou pouco, uns 6 meses, nem chegamos a compor músicas próprias. Mas enquanto eu tava nessa banda eu trombei o antigo baterista da banda Nosferatu (que na época tinha outro nome) e nós estávamos cogitando a idéia de voltarmos a tocar juntos, só que aí eu falei pra ele, "então vamos tocar death metal que eu já estou tocando heavy lá com o pessoal e quero tocar outra coisa se for pra montar outra banda".

Mas no fim das contas a gente resolveu que o que mais queríamos era tocar heavy metal e depois a banda lá da outra cidade acabou. Nós arrumamos outros integrantes porque os antigos não queriam mais saber de nada com nada, aí começamos a compor e a partir daí a banda nunca mais parou.

2 - A banda já teve vários membros. A quais fatores se deve essa inconstância na formação?

Hussein: Tem vários fatores. Tem integrantes que acham que ter banda é uma farra, aí quando sentem a responsabilidade acabam largando tudo. Não querem saber de nada, não querem investir em equipamento etc... Tem uns que quando arrumam namorada nem lembram mais que tem banda, ficam arrumando desculpinha pra cancelar ensaio, não fazem corre de nada, aí isso vai enchendo o saco. A maioria dos ex-integrantes saíram da banda por causa de problemas com mulheres.

Teve cara que a namorada largou aí ele não queria mais saber de nada, tipo misturava as coisas. Tem cara que acha que é rock star, aí é foda, você vai ficando de saco cheio porque sempre que um integrante ta dando mancada eu vou lá e converso várias vezes e o cara não muda. Aí eu sou meio chato em certas questões, porque quando o cara vai entrar na banda promete tudo, concorda com tudo, aí depois não cumpre e eu sou exigente quanto a isso. É por isso que muitos dão pra trás nessas horas, hehe...




3 - Você começou cantando e logo abandonou o posto, se concentrando só nas guitarras? Qual o motivo?

Hussein: Então na verdade eu já comecei tocando e cantando igual está agora, só que eu tive uns problemas com a minha voz devido à falta de técnica, descuidos tomando coisas geladas, friagem, insônia etc... Aí a garganta foi pro saco mesmo hehe...
Aí eu fui perdendo as notas agudas, nós ficamos um tempo só ensaiando pra ver se eu me recuperava, mas a coisa só piorava, aí um dia resolvemos arrumar um vocalista que foi o Andherson Némer que gravou o ‘Returning to the Slaughter’. Ele ficou um tempo conosco aí depois quis sair da banda, pois queria fazer um som diferente, depois arrumamos o Rogério Mercy que gravou a música Metal Genocide na qual participamos da coletânea Valhalla Demo Section vol.2 da antiga revista Valhalla.
Acredito que dos dois o vocal que mais combinava conosco era o do Rogério, só que ele dava muito problema pra gente. Ele era um cara que sempre era do contra, hehe ... Esquecia as letras dos sons e no final não andava treinando direito e errando ao vivo.
A gente vivia conversando com ele pra ele melhorar que senão não ia virar mais, mas não teve jeito, tivemos que tirá-lo.
Os dois vocais eram muito bons e cada um tinha uma característica própria muito interessante, tipo o Andherson Némer mesmo, tinha uma boa performance ao vivo, ele agitava bem a galera, coisa que o Rogério já pecava um pouco.
Mas no final das contas quando tiramos o Rogério eu resolvi assumir os vocais, porque aqui não tinha ninguém pra fazer o que estávamos nos propondo a fazer.
Tipo tem músicos bons e tal, mas não combinam com a proposta da banda.
Eu comecei a fazer umas aulas de vocal e melhorei bastante, tipo não recuperei a voz 100%, mas se eu não fizesse isso a banda teria acabado.


4 - Vocês adotam um visual calcado nos anos 80, não só na indumentária, mas também no logo e na artwork. Com todos os recursos e avanços gráficos de hoje em dia isso não soa meio forçado? Pois na época não existiam os profissionais de hoje em dia, e os que haviam, eram caros.

Hussein: No nosso caso é uma coisa natural, porque o metal que eu comecei a escutar e escuto até hoje foi o que me inspirou pra montar a banda então nada mais natural que fazer uma banda na qual seguisse todos os princípios do metal que nos propusemos a fazer, tanto no quesito, visual, musical, ideológico etc...
Curto capas feitas a mão sem efeitos digitais etc...
Não que eu não curta outros tipos de banda, curto muita coisa dentro do rock’n’roll e metal e muitas dessas bandas tem uma sonoridade, visual etc... que fazem bom proveito da tecnologia atual, mas no nosso caso prefiro deixar do jeito que está, he he... Sou um tanto conservador nesse quesito.
As minhas principais influências vêm de bandas dos anos 70 e 80.



5 - Como rolou o convite para relançar a demo de vocês primeiramente na forma de K7, e posteriormente na forma de um cd?

Hussein: Na verdade o primeiro convite foi para relançarmos o Returning to the Slaughter em LP.
Nós havíamos espalhado a nossa primeira demo em formato K7 intitulada de "Savoring the Blood" em algumas revistas, zines etc...
Alguns bangers entraram em contato e adquiriram esse material, com isso uma moça chamada Vera Quecine comprou a Demo tape e foi parar n mão do Ader (Dark Sun records).
Aí nós lançamos o EP Returning to the Slaughter em cd-r, pois não tínhamos dinheiro pra lançar um cd oficial.
Foi quando o Ader entrou em contato e perguntou se a gente queria lançar esse material em LP.
Nós gostamos da idéia, providenciamos tudo e mandamos pra ele, só que na época a última fábrica de LPs no Brasil acabou fechando.
Nesse meio tempo recebemos convite do Fernando da Morbillus records (Bolívia) pra lançar esse material em K7.
Aí ele nos lançou.
O Ader fez a proposta de lançar o material em cd enquanto o problema dos Lps não fosse resolvido. Aí nós fizemos uma edição com algumas músicas bônus pra diferenciar da versão em demo, colocamos encarte com letras, informações sobre a banda etc... para ser uma edição para comemorar os 10 anos da banda que foi o ano passado hehe
O Lp ele está vendo de prensar na Europa, acredito que esse ano ainda saia.


6 - Como tem sido a aceitação do material de vocês? E nos shows?

Hussein: A aceitação tem sido muito boa. As resenhas estão sendo muito positivas, o pessoal que adquire o cd também tem curtido muito.
Nos shows está tendo uma saída legal.
A distribuição eu acredito que poderia ser um pouco melhor, mas estamos fazendo as coisas dentro do possível no underground.
Quanto as apresentações, estamos parados recentemente porque o batera saiu da banda em Fevereiro pelos motivos que estão dentro daqueles que eu respondi, hehe...
Nós estamos procurando um baterista para voltarmos a tocar logo.
Mas voltando a questão da aceitação nos shows, estava sendo muito boa, a galera estava agitando bastante, mesmo em lugares que nunca havíamos tocado antes.

7 - No ep Returning to the Slaughter há covers das bandas Thor e Tysondog. Como rolou a idéia de coverizar essas duas bandas, e como foi que rolou o contato com os ex-membros das duas bandas? Eles chegaram a ouvir as gravações?

Hussein: A gente já vinha tocando essas músicas ao vivo fazia um tempo e quando o Ader nos chamou para relançar o material em cd nós pensamos que seria legal colocarmos algumas músicas bônus pra diferenciar da versão em demo.
Foi então que resolvemos colocar a metal genocide e gravar esses dois covers com a formação atual porque não tinha nenhum material gravado com a minha voz.
Eu já tinha contato com o baixista do Tysondog fazia alguns anos, se eu não me engano desde 2002 e o Thor eu entrei em contato antes de gravarmos.
As bandas nos autorizaram e a gente gravou.
O pessoal do Tysondog curtiu muito e até cogitou a idéia de virem pro Brasil e nos chamar pra abrir os shows.
O Thor eu ainda não enviei o cd, em breve estarei mandando.

8 - A banda se prepara para lançar o primeiro 'full lenght', que irá se chamar "Satan's Child". Em que passo está o cd? A sonoridade se mantém?

Hussein: Nós tivemos que dar uma parada nas gravações por alguns problemas.
O estúdio foi assaltado e quase que o ladrão levou tudo inclusive as nossas músicas, mas o dono chegou a tempo e o cara só levou um aparelho de dvd, televisão etc...
Mas o computador já estava na sacola prontinho pra ser levado também quando ele voltasse, pois ele entrou lá mais de uma vez pra ir carregando as coisas aos poucos, hehe...
A gente ia se fuder legal.
No final das contas o pessoal do estúdio resolveu sair daquele bairro que era meio barra pesada e montar o estúdio em outro lugar, só que por enquanto ainda não acertaram isso, por isso estamos esperando tudo se regularizar pra continuarmos as gravações, faltam apenas as vozes e alguns ajustes, depois é só mixar e masterizar o cd.
Ele se chamará "Satan’s Child" e contará com 10 músicas.
A sonoridade se mantém com certeza, claro que do Ep até o full lenght já se passaram muitos anos e hoje estamos tocando melhor, já temos mais experiência dentro do estúdio etc...
Eu acredito que é um material muito superior, pode parecer clichê esse papo, pois sempre dizem que o material atual é melhor e tal, mas eu falando é meio suspeito, o pessoal vai ter que escutar depois e me dizer o que acham, mas as músicas estão ficando muito fudidas.


9 - Tendo em vista que hoje em dia há um revival dos anos 80, como vocês vêem a Nosferatu daqui a alguns anos? Agregarão novas influencias, ou tentarão manter a essência?

Hussein: Essa é uma pergunta interessante, he he...
Cara, hoje com essa onda de mp3 e toda a facilidade que a Internet proporciona, surgiu um monte de nerds playboys metidos a radicais conhecedores de bandas old school.
Eu vejo um monte de banda surgindo falando que toca metal anos 80 (seja heavy, thrash, death, black etc...) usando um visual característico, mas muitas vezes o som é fraco, não sabem nem tocar direito e já querem tocar ao vivo, é muita atitude e pouco som.
Passa uns dois anos e o cara nem está mais no movimento, porque tudo veio fácil demais, não teve aquela correria pra arrumar os plays, simplesmente viram a foto de determinado play no álbum de algum amigo no orkut e foram baixando.
Isso aí que estraga as coisas, você lembra um tempo atrás quando tinha a moda do metal melódico, depois gótico e depois black metal?
É isso o que está acontecendo com o metal anos 80, tem neguinho confundindo as coisas, só porque é anos 80 ta pagando um pau, escutando uns raps dessa década, Madonna etc... misturando com o metal e tal.
Não é porque é daquela década que deve-se levar em conta, tinha muita merda naquela época também, assim como hoje tem muita coisa ruim e boa.
Olha um tempo atrás, muita gente nem sabia o que era crossover e olha hoje o quanto de mulecada que você vê usando bonezinho com a aba pra cima ou bandana?
São atitudes como essas que hoje tem EMO usando tênis pride, calça apertada etc...
A profanação foi tanta que hoje a galera fica perdida.
Nós quando começamos, não tinha muita gente que conhecia o que nós nos propusemos a fazer, era mais o pessoal mais velho mesmo que ficava meio desconfiado de ver uma mulecada (na época a gente era meio pivetão hehe) tocando esse tipo de som e depois que nos viam ao vivo, vinham cumprimentar, falando que a gente tava fazendo um metal das antigas que eles curtem e hoje quase não tem bandas desse tipo.
Na Nosferatu eu posso lhe afirmar de pé junto que não vamos mudar o ponto de vista ideológico e musical, é por isso que muitos saem da banda, quiseram modernizar o som e acabou não rolando.
Se for pra acontecer isso a banda acaba.
Eu mesmo tenho uns outros projetos nos quais faço um som totalmente diferente do nosso, tenho uma banda de speed metal, uma de speed/thrash/black, mais pra frente quero montar uma de hard/doom na linha do black sabbath, Pagan altar etc... com influencias de rock progressivo/psicodélico.
Eu acho que é interessante fazer isso pra poder explorar outros caminhos musicais sem ter que mudar o som da banda, bom sei lá cada um pensa da maneira que quiser, mas como falei na banda Nosferatu não vamos mudar, hehe.



10 - Obrigado pela atenção. O espaço é seu para mensagens, e o que mais desejarem divulgar!

Hussein: Muito obrigado pelo espaço cedido. Pretendemos voltar a tocar o mais rápido possível. Fiquem atentos que logo o nosso debut estará pronto e queremos fazer uma tour de divulgação pelo país. Quem tiver interesse em conhecer o som da banda é só entrar no myspace: http://www.myspace.com/nosferatubrazil. Headbangers, entrem em contato para trocarmos uma idéia.
Abraço!


 

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